FONTE: O APOLOGISTA DA VERDADE
Ainda subsistem grupos religiosos da cristandade que advogam a guarda dos chamados “Dez Mandamentos”, os quais incluem o sábado semanal. Eles arguem que esse conjunto de leis – também chamado de Decálogo – existe desde a criação do homem. E para tentar consolidar a continuidade dos mesmos dentro do cristianismo, estabeleceram uma série de fórmulas, ou conceitos, separando a Lei dada a Israel em “lei moral” (segundo eles, o Decálogo) e “lei cerimonial” (as demais leis dadas, segundo eles, por Moisés). Veja abaixo alguns aspectos dessa fórmula:
Decálogo
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As demais leis
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Mandamentos
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Ordenanças
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Lei moral
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Lei cerimonial
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Lei de Deus
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Lei de Moisés
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Perpétuo
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Tiveram fim
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Escrito pelo “dedo de Deus”
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Escritas por Moisés
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Escrito em pedras
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Escritas num livro
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Colocado na arca do pacto
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Colocadas fora da Arca
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Diante disso, pessoas sinceras, tementes a Deus, mas que desconhecem as Escrituras, se perguntam: “Preciso mesmo guardar os ‘Dez Mandamentos’? É um requisito divino para os cristãos?” Assim, em benefício de tais pessoas, bem como de todos os estudantes das Escrituras, esta série de artigos apresenta um estudo que analisa o que a Palavra de Deus realmente diz sobre o assunto em pauta. Ao mesmo tempo, analisará os principais argumentos dos proponentes da guarda do Decálogo com seu sábado semanal à luz das Escrituras.
Os defensores da obrigatoriedade do Decálogo para os cristãos costumam associar quase toda menção de “mandamentos” na Bíblia ao Decálogo. Assim, quando leem expressões tais como “os mandamentos de Deus” (Re 14:12), eles propõem que a referência é ao Decálogo. No entanto, a Bíblia usa a palavra “mandamentos” apenas para as leis do Decálogo?
A expressão “Dez Mandamentos” não ocorre na língua original do “Velho Testamento”
Para muitos, isso é uma grande surpresa, uma vez que ficaram acostumados com essa expressão, que foi, inclusive, popularizada em filmes. A expressão que ocorre no texto hebraico é ‛asé·rethhad·deva·rím, que significa literalmente “Dez Palavras”. (Êx 34:28, NM) ASeptuaginta grega (LXX), nessa passagem, verte por “δεκα λογους”(dé·ka ló·gous), expressão que significa “dez palavras”, combinação que originou a palavra “Decálogo” (Dez Palavras). Essa expressão ocorre apenas no Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia). Na exposição do Decálogo, em Êxodo, capítulo 20, e na repetição do mesmo, em Deuteronômio, capitulo 5, ele é chamado apenas de “Palavras” (LXX). (Êx 20:1, τοúς λογους, toús logous, LXX; De 5:22, τα ρηματα, tá rémata, LXX) A palavra hebraica para “mandamento” é mits·wáh, e ela não ocorre em nenhuma combinação que forme a expressão “dez mandamentos”. O entendimento desse fato derruba o sofisma colocado por alguns, de que a palavra “mandamento” ou “mandamentos” se refere sempre ao Decálogo, o que não é verdade.
Uso da palavra “mandamentos” na Bíblia
Leis das ofertas eram mandamentos:
Números 15:17-22, IBB: “Disse mais o Senhor a Moisés:
Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Depois de terdes entrado na terra em que vos hei de introduzir, será que, ao comerdes do pão da terra,oferecereis ao Senhor uma OFERTA alçada. Das primícias da vossa massa oferecereis um bolo em oferta alçada; como a oferta alçada da eira, assim o oferecereis. Das primícias das vossas massas dareis ao Senhor OFERTA alçada durante as vossas gerações. Igualmente, quando vierdes a errar, e não observardes TODOS ESSES MANDAMENTOS, que o Senhor tem falado a Moisés.”
Leis da herança eram mandamentos:
Números 36:7, 9, 13, Al: “Assim, a HERANÇA dos filhos de Israelnão passará de tribo em tribo; pois os filhos de Israel se chegarão cada um à herança da tribo de seus pais. Assim, a herança não passará de uma tribo a outra; pois as tribos dos filhos de Israel se chegarão cada uma à sua herança. Estes são os MANDAMENTOS e os juízos que mandou o SENHOR pela mão de Moisés aos filhos de Israel nas campinas dos moabitas, junto ao Jordão, de Jericó.”
Lei do divórcio era mandamento:
Marcos 10:1-5, ACRF: “E, levantando-se dali, [Jesus] foi para os termos da Judeia, além do Jordão, e a multidão se reuniu em torno dele; e tornou a ensiná-los, como tinha por costume. E, aproximando-se dele os fariseus, perguntaram-lhe, tentando-o: É lícito ao homem repudiar sua mulher? Mas ele, respondendo, disse-lhes: Que vos mandou Moisés? E eles disseram: Moisés permitiu escrever carta de DIVÓRCIO e repudiar. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Pela dureza dos vossos corações vos deixou ele escrito esse MANDAMENTO.”
A lei do voto e a lei do dízimo eram mandamentos:
Levítico 27:2, 14, 26, 30, 34, NVI: “Diga o seguinte aos israelitas: Se alguém fizer um VOTO especial, dedicando pessoas ao Senhor, faça-o conforme o devido valor. Se um homem consagrar a sua casa ao Senhor, o sacerdote avaliará a casa por suas qualidades. A avaliação do sacerdote determinará o valor da casa. Ninguém poderá consagrar a primeira cria de um animal, pois já pertence ao Senhor; seja cria de vaca, seja de cabra, seja de ovelha, pertence ao Senhor. Todos os DÍZIMOS da terra, seja dos cereais, seja das frutas das árvores, pertencem ao Senhor; são consagrados ao Senhor. São esses os MANDAMENTOS que o Senhor ordenou a Moisés no monte Sinai para os israelitas.”
Deuteronômio 26:12, 13, ALA: “Quando acabares de separar todos os DÍZIMOS da tua messe no ano terceiro, que é o dos dízimos, então, os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas cidades e se fartem. Dirás perante o SENHOR, teu Deus: Tirei de minha casa o que é consagrado e dei também ao levita, e ao estrangeiro, e ao órfão, e à viúva, segundo todos os teusMANDAMENTOS que me tens ordenado; nada transgredi dos teus mandamentos, nem deles me esqueci.”
Outros mandamentos da chamada “Lei cerimonial”:
Marcos 10:19, IBB: “Sabes os MANDAMENTOS: Não matarás; não adulterarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; A NINGUÉM DEFRAUDARÁS; honra a teu pai e a tua mãe.”
A lei contra defraudar encontra-se em Levítico 19:13, mas também foi chamada de ‘mandamento’ por Jesus Cristo e colocada junto com outros mandamentos do Decálogo. Isso mostra também que Jesus considerava o Decálogo e os demais mandamentos da Lei dada a Israel como sendo um único conjunto de leis, que findaram como um todo, conforme será mostrado nesta série de artigos.
Esdras 9:10-14, Al: “Agora, ó nosso Deus, que diremos depois disto? Pois deixamos os teus MANDAMENTOS, que ordenaste por intermédio dos teus servos, os profetas, dizendo: A terra em que entrais para a possuir é terra imunda pela imundícia dos seus povos, pelas abominações com que, na sua corrupção, a encheram de uma extremidade à outra. Por isso, não dareis as vossas filhas a seus filhos, e suas filhas não tomareis para os vossos filhos, e jamais procurareis a paz e o bem desses povos; para que sejais fortes, e comais o melhor da terra, e a deixeis por herança a vossos filhos, para sempre. Depois de tudo o que nos tem sucedido por causa das nossas más obras e da nossa grande culpa, e vendo ainda que tu, ó nosso Deus, nos tens castigado menos do que merecem as nossas iniquidades e ainda nos deste este restante que escapou, tornaremos a violar os teusMANDAMENTOS e a aparentar-nos com os povos destas abominações? Não te indignarias tu, assim, contra nós, até de todo nos consumires, até não haver restante nem alguém que escapasse?” Portanto, casar-se com pagãos e buscar ter tratos com eles foram classificados como “mandamentos” de Deus.
Normas cristãs também são chamadas de “mandamentos”
Tito 1:3, ACRF: “Mas, a seu tempo, manifestou a sua palavra pelaPREGAÇÃO que me foi confiada segundo o MANDAMENTO de Deus, nosso Salvador.”
Assim, a pregação das boas novas constitui um mandamento de Deus, dado por meio de Jesus Cristo. (Mt 28:19, 20) Observe outros mandamentos cristãos:
1 João 3:23: “Deveras, este é o seu MANDAMENTO, que tenhamos fé no nome do seu Filho Jesus Cristo e que estejamos amando uns aos outros, assim como ele nos deu mandamento.”
1 João 4:21: “E temos dele este MANDAMENTO, que aquele que ama a Deus esteja também amando o seu irmão.”
1 Coríntios 14:37, IBB: Se alguém se considera profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor.”
Nessa carta, Paulo escreveu sobre manter a união de crenças (1:10), sobre excomungar pecadores impenitentes (5:9-13), sobre casar-se apenas com cristãos fiéis (7:39), contra a fornicação e a idolatria (6:18; 10:14), sobre o respeito ao arranjo da chefia no cristianismo (11:5, 6, 10, 16), e sobre a necessidade de organização nas reuniões cristãs. (14:26, 27, 33, 34) Portanto, ele chamou todas essas diretrizes cristãs de “mandamentos do Senhor”.
Mandamentos também são ordenanças
Marcos 7:7, ACRF: “Em vão, porém, me honram, Ensinando doutrinas que são MANDAMENTOS de homens.”
Mateus 15:9, ACRF: “Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são PRECEITOS dos homens.”
Pela comparação das passagens acima, torna-se claro que “mandamentos” também são “preceitos”. E o que são preceitos?
Colossenses 2:20-22, ACRF: “Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda deORDENANÇAS, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens.”
Note que as “ordenanças” foram comparadas a “preceitos”, os quais são também “mandamentos”. Assim, ordenanças e mandamentos são a mesma coisa. De modo que essa fórmula de diferenciação entre “mandamentos” e “ordenanças”, bem como a suposição de que “mandamentos” se referem sempre ao Decálogo, não subsistem a um escrutínio bíblico. Esses conceitos não têm base bíblica.
O próximo artigo dará continuidade ao exame dos conceitos que separam a Lei dada a Israel em duas partes.
Traduções usadas neste artigo:
Al: Versão de João Ferreira de Almeida, Revista e Corrigida.
ACRF: Almeida Corrigida e Revisada Fiel.
ALA: Almeida Atualizada no Brasil.
IBB: Almeida da Imprensa Bíblica do Brasil.
NVI: Nova Versão Internacional.
A menos que haja outra indicação, a tradução da Bíblia citada nos artigos deste blog é a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas —Com Referências, Edição de 1986, publicada pelas Testemunhas de Jeová.
OBSERVE UMA CONTINUAÇÃO DESTE ARTIGO ou parte 2
Consideração da PARTE 3 DESTE ARTIGO
Eu pessoalmente achei essa abordagem do assunto feita pelo apologista sensacional.Sempre achei a argumentação dos adventistas sobre esse tema muito profunda,são de fato pessoas inteligentes,mas essa serie de artigos realmente mostrou que a defesa feitas por eles em base numa argumentação frágil não é verdadeira.Parabéns Apologista!
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