Cipriano de Cartago (c. 200–58)
Por Queruvim
A Encyclopedia Católica em Inglês afirma que “Cipriano …parece sem dúvida ter tido em mente [o Parêntese Joanino].” Entretanto, não somente há dúvidas, como também claros argumentos contrários a isso.
Há um consenso entre os eruditos de que a cláusula Joanina é uma corrupção latina que entrou na tradição de manuscritos gregos em cópias subsequentes. O Textus Receptus costuma aceitar o acréscimo em contraste com o Texto Crítico. Cipriano de Cartago, um dos “Pais da Igreja” do 3º Século, em seus escritos intitulado “Unidade da Igreja” no Tratado I seção 6, é mencionado por alguns defensores da Trindade, como citando a “cláusula Joanina” de 1 João 5:7. Isto é especialmente notável, visto que a Cláusula ou Parêntese Joanino não é citado por nenhum dos Pais da Igreja, tais como Clemente de Alexandria, Tertuliano, Jerônimo, Santo Agostinho, Leo, Orígenes, Atanásio e muitos outros. Em seu Tratado I, onde Cipriano supostamente cita o Parêntese , ele escreveu logo após citar João 10:30:
“O Senhor diz: ‘Eu e o Pai somos um’ E outra vez está escrito do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, “E estes três são um”.
Contra o ponto de vista de que Cipriano cita tais palavras, Daniel B. Wallace escreveu que, como Cipriano não cita o Pai, a Palavra e o Espírito Santo, “isso, no mínimo, não prova que ele soubesse de tal linguagem”. E o fato de Cipriano não ter citado uma exata versão do texto … indica que uma interpretação trinitária foi sobreposta ao texto de Cipriano”. Mas o ponto mais interessante é o seguinte:
Cipriano (falecido em 258), que na Seção 6 de seu Tratado citou João 10:30 contra os hereges que negaram que o Pai o Filho e o Espírito Santo são um e acrescentou: “Está escrito [a respeito] do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, “E estes três são um.” Note que Cipriano citou João 10:30 e explicava João 10:30 e não 1 João 5:7!
Daniel B. Wallace observa que, embora Cipriano diz – “escrita a respeito de” – ao invés de citar um texto-prova – “escrito que”. Ao observar isso, Wallace está seguindo as edições críticas padrão atuais do Novo Testamento (NA28 e UBS4) que consideram que há evidências contra, e não a favor do suposto testemunho de Cipriano. Não fariam isso se achassem que ele tivesse realmente citado a passagem. Assim, embora alguns ainda pensem que Cipriano se referiu à passagem, o fato de que outros teólogos como Atanásio de Alexandria e Sabélio e Orígenes nunca mencionaram ou citaram essa passagem é uma razão pela qual muitos trinitaristas mais tarde também consideraram o texto espúrio, e como não sendo parte do texto original.
Em sua posição Wallace está de acordo com as anteriores edições críticas do Novo Testamento (NA26, NA28 e UBS3), que considerou Cipriano uma testemunha contra o Parêntese Joanino. Não somente Dan Wallace, mas muitos outros eruditos católicos e evangélicos de destaque da atualidade, concordam que tal inserção não é canônica. ( Veja The Comma Johanneum and Cyprian por Daniel B. Wallace)
Cipriano foi bastante influenciado pelo estilo e pensamento de Tertuliano. Em seus escritos Epistola e Donatum de gratia Dei bem como Testimoniorum Libri III, observamos ele seguir de perto o modelo de pregação e ensino de Tertuliano, e não dos Apóstolos de Jesus Cristo. Para saber como pensava Tertuliano, consulte este artigo.
Leia também: A História de uma interpolação- 1 João 5:7
Porque é uma inserção deliberada ou falsificação
A ausência do Parêntese Joanino em manuscritos gregos anteriores ao Século 13 é algo notório. E os Pais gregos não citam tal passagem apesar de abordarem de forma recorrente a controvérsia trinitária. É obvio que este texto seria citado exaustivamente caso fosse de conhecimento dos chamados “Pais da Igreja”. Podemos concluir com segurança que este texto não é canônico, pois isso demonstra uma inclusão gradual de um texto desconhecido, estranho à maioria daquela época.
O Parêntese Joanino está ausente nos manuscritos ( mss) de todas as versões antigas em siríaco, cóptico, armênio, árabe, etíope e eslovaco, bem como nas primitivas versões em Latin ou na Vulgata de Jerônimo revisada por Alcuin. Cuidado com a afirmação de alguns, quando alegam que a cláusula Joanina aparece em alguns destes textos nestes idiomas. Sim, pode até aparecer, mas em versões posteriores. O mesmo aconteceu com a Vulgata! A ausência nos mais antigos mss demonstra evidência contra a canonicidade desta passagem nas diferentes escolas de transmissão textual em locais geograficamente distantes.
O texto em Latin da antiguidade usado por Cipriano não empregava a Cláusula Joanina. Todos estes argumentos um a um, desmontam a afirmação de alguns de que tal passagem é canônica.
Assim como o Nome de Deus foi removido totalmente da Vulgata latina de Jerônimo, preparando o cominho para todas as Bíblias em inglês seguirem essa tradição desde a idade média, o acréscimo do Parêntese Joanino em uma revisão da Vulgata foi o que contribuiu para a ampla aceitação desta interpolação em versões em inglês desde a idade média. Não é encontrada nos dois mais antigos e puros manuscritos da Vulgata Lantina, Fuldensis e Amiatinus. Vemos um padrão altamente suspeito de tentativa de adulterar a palavra de Deus por parte de teólogos e tradutores do clero da Cristandade.
Observe na Tabela abaixo o aparecimento gradual da inserção, também chamada de “Comma joanina”, na evidência manuscrita:
Manuscritos em Latim | |||
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Data | Nome | Lugar | Outras Informações |
7º Século | Codex Legionensis | Catedral de Leon | Espanhol |
7º Século | Frisingensia Fragmenta | Espanhol | |
9º Século | Codex Cavensis | Espanhol | |
9º Século | Codex Ulmensis | Espanhol | |
927 AD | Codex Complutensis I | Espanhol | |
10º Século | Codex Toletanus | Espanhol | |
8º–9º Século | Codex Theodulphianus | Paris (BnF) | Franco-Espanhol |
8º–9º Século | Codex Sangallensis 907 | St. Gallen | Franco-Espanhol |
9º–10º Século | Codex Sangallensis 63 | St. Gallen | nota marginal |
Manuscritos Gregos | ||||
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Data | Manuscrito Nº. | Nome | Lugar | Outras Informações |
c. 1520 | 61 | Codex Montfortianus | Dublin | Original. Reza “Espírito Santo” ao invés de “Espírito”. artigos ausentes antes de “três Testemunhas” (espírito, água , sangue). |
Século 14 e 15 | 629 | Codex Ottobonianus | Vatican0 | Original. Texto em Latim junto com Texto Grego, revisado para se harmonizar com o Latim. A Comma foi traduzida e copiada do latim para o Grego. |
Século 16 | 918 | Escorial (Espanha) |
Original. | |
Século 18 | 2318 | Bucareste | Original. Considerado como sendo influenciado pela Vulgata Clementina. |
|
Século 18 | 2473 | Atenas | Original. | |
Século 18 | 88 | Codex Regis | Nápoles | Nota marginal : Século 16 |
Século 11 | 177 | BSB Cod. graec. 211 | Munique | Nota marginal: Em fins do Século 16 |
Século 10 | 221 | Oxford | Nota marginal: Século 15 ou 16 | |
Século 14 | 429 | Codex Wolfenbüttel | Wolfenbüttel (Alemanha) |
Nota marginal : Século 16 |
Século 16 | 636 |
Nápoles |
Nota marginal : Século 16 |
Século 11 635 Minuscule Nápoles Nota Marginal: Século 11
Foi citado inicialmente em tratado produzido por um feiticeiro
Certo nobre muito rico da região de Roma chamado Prisciliano[1] e que se tornou Bispo de Ávila em 380 E.C , é citado por muitos eruditos como sendo o infeliz que atribuiu o Parêntese Joanino à Epístola de João. Em 385 E.C . Ele foi executado pelo Imperador Maximus ao ser acusado pelos bispos de Roma de praticar feitiçaria. (Veja os escritos de Sulpicius Severus [2] onde se fala sobre ele na Crônica II.46)
1 Priscilianismo
2 Encyclopædia Britannica/Severus, Sulpicius
Veja também:
No artigo abaixo Bill Mounce reconhece que a passagem de 1 João 5:7 não é de autoria do apóstolo João.
The Trinitarian Formula in 1 John 5:7–8 – Mondays with Mounce
Excelente Artigo ! Parabéns pela pesquisa , Queruvim !’ Que Jeová continue abençoado os seus esforços ! ( Salmo 133;1; Salmo 91;14 ) E que conceda os pedidos do seu coração ! ( Salmo 20 ;1-4).
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O texto que Cipriano fazia menção é 1 João 5:8, quando ele fala do Pai, Filho e Espírito Santo se refere ao espírito, a água e ao sangue, estes três são considerados simbolos da pessoa da Trindade, para mais esclarecimentos sobre isso, leiam a explicação de Santo Agostinho
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“Os homens descobriram que é muito mais conveniente adulterar a verdade do que refinar a si mesmos.” — Charles Caleb Colton, clérigo inglês do século 19.
Que matéria legal acima…..
Queruvim – off topic –
a respeito de uma assunto que vi aqui no site sobre diferença das palavras “autoridade” e “poder”, fica que a duas aparecem juntas em Efésios 1:21…..
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Luciano, a respeito de “autoridade e poder” agradeço pela observação, de forma que fiz uma adição no artigo. Inclui o texto tão oportuno de Efésios 1:21. Tinha me passado despercebido. Muito obrigado pela contribuição.
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