REFUTAÇÃO AO TEXTO DE AUTORIA DO SR. DAVI CALDAS
O texto de autoria do Sr. Davi Caldas, intitulado “Somos obrigados a seguir os 613 mandamentos da Torá?”, é deveras um texto bem escrito – motivo pelo qual parabenizamo-lo. À primeira vista parece uma redação coerente e bem embasada. Apresenta, entretanto, erros argumentativos que indicaremos a seguir, nesta refutação. “Vamos entender.”
No primeiro parágrafo, Sr. Caldas apresenta o assunto e afirma sua proposição: guardar apenas partes da Torá não é hipocrisia. No segundo e terceiro parágrafos, ele expõe uma argumentação muito interessante para embasar a afirmativa “nenhuma pessoa jamais foi obrigada a cumprir os 613 mandamentos.” Em contrapartida, o próprio Deus afirmou aos israelitas sob a Torá: “[…] para que vos lembreis de todos os meus mandamentos e obedeçais a eles” (Números 15:40, A21). Qual é o problema com o raciocínio do Sr. Caldas? Ele diz: “Nem mesmo os judeus na antiga aliança”. A falácia reside no ângulo em que ele considera “os judeus” – individualmente. Porém os judeus constituíam uma nação dedicada a Deus, o ” servo” coletivo de Isaías 43:10. E, como nação , os judeus estavam sob todos os 613 mandamentos. Ou seja, a ênfase deveria recair sobre o povo de Deus . A afirmação correta é: se e quando a Torá vigora, o povo de Deus tem a obrigação de cumprir os 613 mandamentos da Torá.
Sr. Caldas escreve: “os 613 mandamentos não precisam ser aplicáveis a todos os grupos, contextos, lugares e épocas para que a Torá seja válida”. Mas todos eles precisam ser aplicáveis ao povo de Deus, como grupo, para que a Torá vigore em dado tempo. Como ele mesmo admite que muitos dos mandamentos “só podem ser cumpridos na vigência do sistema teocrático israelita e no próprio Israel”, conclui-se daí que a Torá só pode vigorar “na vigência do sistema teocrático israelita e no próprio Israel”.
Pensemos novamente na feliz explicação dada pelo autor, na qual ele confessa que muitos mandamentos só podiam ser cumpridos em Israel. A guarda do sábado conforme estipulada na Torá é um desses. Por quê? Porque a Torá não exigia apenas que o judeu cessasse de trabalhar no sábado. A guarda correta incluía não aceitar trabalho de outros nesse dia, nem mesmo de animais (Êxodo 20:10). O guardador do sábado sob a Torá não podia permitir o trabalho de ninguém que ‘vivesse em sua cidade’ (Deuteronômio 5:14). Assim, desfrutar do trabalho de outros – como prestadores de serviço nas companhias de água e esgoto, de energia elétrica, de empresas de telefonia, de emissoras de televisão etc – constitui violação do sábado. Está claro que guardar o sábado como estipulado na Torá não é hoje exequível. Conclusão: a lei do sábado é um dos mandamentos que, como bem expressou o Sr. Caldas, ” só podem ser cumpridos na vigência do sistema teocrático israelita e no próprio Israel” , pois tinha que ser observado nacionalmente .
No quarto parágrafo, ele afirma: “a Torá/Lei não foi abolida no sacrifício de Cristo Jesus”. Efésios 2:15 refuta tal afirmação: “[Cristo] aboliu , na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças” (ARA). O Comentário Bíblico Adventista (CBA) explica que o verbo traduzido “aboliu” também significa “cancelou”, “anulou”, “invalidou”; e que a expressão “na sua carne” significa ‘o sacrifício de seu corpo na cruz’. Não custa lembrar, a Sra. Ellen White classificou o sábado como “ordenança” no livro O Grande Conflito, capítulo 26.
Ainda nesses parágrafos, o Sr. Caldas reconhece que as “festas sagradas”, “festividades”, “eram mandamentos aplicáveis ao período pré-Cristo” e que “Não é mais preciso recorrer às representações, porque já temos a realidade”. São todas afirmações muito bem embasadas. O único detalhe que ele desconsidera é que se aplicam também ao sábado semanal.
A Bíblia de Estudo Andrews, adventista, comenta sobre Levítico 23:2, que fala de “festas santas”: “festas. Ou: “épocas designadas”, incluindo o sábado semanal “. Logo, aplica-se perfeitamente ao sábado o raciocínio do Sr. Caldas. O sábado semanal era uma das “festas sagradas”, um ‘mandamento aplicável ao período pré-Cristo’.
Em relação ao contraste representação x realidade, lemos em Colossenses 2:16, 17 (ARC): “ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo [“a realidade”, A21, KJA, BJ, NVI, NTLH] é de Cristo.” O adventista mediano dirá que os “sábados” aqui são os “cerimoniais”, não os semanais. Mas a Bíblia de Estudo Andrews, adventista, confessa em nota: “é possível que o termo sábado incluísse até mesmo o sábado semanal “. Indo além, a Revista Adventista, em janeiro de 2009, explicou sobre Colossenses 2:16, 17: “Há os que dizem que os “sábados” mencionados em 2:16 são somente os cerimoniais […] A dificuldade com essa interpretação é que, se os “sábados”, em Colossenses 2:16, são somente cerimoniais, a que feriados ou dias santos estaria se referindo a expressão “dia de festa”, mencionada pouco antes, no mesmo verso? Teria Paulo feito uma repetição desnecessária? Ao que parece, o texto de Colossences 2:16 refere-se a quaisquer tipos de sábado : anuais, mensais ou semanais “. A mesma revista explica que a palavra “sombra”, usada nesse texto, é sempre vista como algo ” transitório “. A conclusão é inescapável: o sábado semanal era uma sombra (“de coisas futuras”, disse Paulo, não passadas), algo transitório , uma representação das futuras bênçãos sob Cristo. Apegar-se à sombra, o sábado, é negar a realidade, Cristo. Nas sábias palavras do Sr. Caldas, “Não é mais preciso recorrer às representações, porque já temos a realidade”.
Nesses quarto e quinto parágrafos, o autor sutilmente impõe ao leitor sua própria definição do verbo “cumprir”, como se esse verbo jamais indicasse pôr fim à vigência de algo. Em contraste, certo dicionário define “cumprir” como “completar o tempo estabelecido para”. Por exemplo, a Torá falava de “cumprir um voto” (Números 15:3, 8). É óbvio que, após cumprido, o voto deixa de vigorar. Ironicamente, o autor trai sua própria imposição semântica quando afirma, no quinto parágrafo: ” Não é mais preciso recorrer às representações, porque já temos a realidade. E isso só pode ser descrito como cumprimento da Torá”. Notou como ele mesmo admite que algo que foi ‘cumprido’ é algo a que ‘não se precisa mais recorrer’?
Para esclarecer ainda mais o significado de “cumprir”, leiamos as palavras do Mestre em Mateus 5:17 (ARC): “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas ; não vim ab-rogar, mas cumprir ” (o contexto manifesta que Cristo falava de toda a Lei, pois ele passa a citar mandamentos do Decálogo e da incorretamente chamada ‘lei cerimonial’). Que aprendemos desse versículo? Jesus cumpriu “os profetas”, as profecias messiânicas; ninguém mais precisa cumpri-las. Do mesmíssimo modo, Jesus cumpriu a Torá (Lei mosaica), de modo que ninguém mais precisa cumpri-la. Se alguém hoje tentasse cumprir as profecias messiânicas, demonstraria falta de respeito por Cristo, insinuando que ele não as cumpriu corretamente. Do mesmíssimo modo, tentar cumprir a Torá hoje insinua que Cristo não a cumpriu corretamente. Mas podemos ir além e ler o versículo seguinte, Mateus 5:18 (ARA): “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra .” (Os sabatistas geralmente só leem até a segunda vírgula.) A afirmação de Jesus equivale a dizer que, quando a Lei se cumprisse, ela passaria, com todos seus is e tils. (Hebraico tem til??)
No sexto e sétimo parágrafos, o autor trata da circuncisão. Ele cita Gálatas 5:3. Veja o comentário sobre esse texto no Comentário Bíblico Adventista: “a Lei não admite que se faça uma seleção: ou tudo ou nada”. E acrescenta: “Paulo não tinha o propósito de ensinar que é pecado alguém se circuncidar […] O que Paulo continuamente negava e combatia era a insistência dos judaizantes na necessidade da circuncisão como meio para a salvação e como requisito para as igrejas cristãs”. Troque, nessa citação, “circuncisão” por “guarda do sábado” e terá a posição das Testemunhas de Jeová. Como o autor citou um verso de Gálatas, vejamos mais dois: “se a justiça vem por meio da lei, então Cristo morreu inutilmente”; “todos os que são das obras da lei estão debaixo de maldição. Porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece na prática de todas as coisas escritas no livro da lei”. (Gálatas 2:21; 3:10, A21). O Comentário Bíblico Adventista explica: “a palavra “lei” – como Paulo a usa na Epístola aos Gálatas – inclui tanto a lei moral – o Decálogo – como a lei cerimonial”.
Nos mesmos parágrafos o autor aponta uma suposta falha no argumento antiadventista baseado em Gálatas 5:3. Ele diz: “O pressuposto [antiadventismo] é: sábado e distinção de alimentos tem a mesma natureza que a circuncisão”. Falso. O verdadeiro pressuposto é: sábado e distinção de alimentos eram requisitos da Torá tanto quanto a circuncisão. O autor diz: “Há uma grande falha nesse argumento. Ele ignora que a circuncisão foi instituída como um sinal da aliança de Deus com Abraão e sua descendência física (Gn 17:9-14)”. Há duas grandes falhas nesse argumento.
Primeira falha: é irrelevante para o ponto em questão. Ter sido a circuncisão dada a Abraão não muda o fato de que era um requisito que fazia parte da Torá, conforme Levítico 12:3. Na verdade, a circuncisão era ainda mais importante do que o sábado, sob a Lei, pois Levítico 12:3 não fazia exceção para o sábado. Jesus usou isso como argumento em João 7:23 (o já citado CBA explica que, para se realizar a circuncisão, “o sábado era ignorado”). Aliás, é um mandamento da Torá perfeitamente “aplicável”, “logicamente possível” de ser guardado (para usar as palavras do autor). Por que então os sabatistas não o guardam?
Segunda falha: o autor reconhece a circuncisão como ” sinal ” entre Deus e a descendência de Abraão. Acontece que a Biblia diz o mesmo sobre o sábado: “Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado, celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações. Entre mim e os filhos de Israel é sinal para sempre; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, e, ao sétimo dia, descansou, e tomou alento.” (Êxodo 31:16, 17, ARA) A nota na Bíblia de Estudo Andrews, adventista, diz: “sinal. O mesmo termo […] ocorre em Gn 17:9-14 para se referir à circuncisão.” Mais claro impossível. Exatamente como a circuncisão, o sábado era um sinal exclusivo com os israelitas. O próprio termo hebraico para “sinal”, “ot”, significa uma “marca distintiva” (Dicionário Chavez); era, portanto, algo que distinguia os israelitas de povos estrangeiros. Não seria assim se, como pretende o autor, “o sábado era para todos”. Por isso Deus jamais requereu, ou exigiu, que estrangeiros guardassem o sábado. Tampouco o texto que ele cita a seguir prova isso. (Sobre o sábado durar “para sempre” em Êxodo 31:16, 17, a Bíblia Andrews comenta que o termo hebraico traduzido “para sempre” significa apenas “um período de tempo indefinido” – nota em Êxodo 21:6)
Isaías 56:1-8 não é, de forma alguma, uma exigência de que estrangeiros guardassem o sábado. O verso 4 diz: “Porque assim diz o SENHOR a respeito dos eunucos que guardam os meus sábados, e escolhem aquilo que me agrada, e abraçam o meu concerto”. Note: era uma “escolha”, não um requerimento, nem uma exigência. E, se esse texto serve de base para se concluir que o sábado “era para todos” e ainda vigora, como diz o autor, então o mesmo se aplicaria aos sacrifícios e holocaustos, pois lemos em Isaías 56:7 que os mesmos estrangeiros que guardassem o sábado trariam ” seus holocaustos e os seus sacrifícios ” ao altar de Deus. Em suma: tudo que se argumentar sobre o sábado com base nessa passagem valerá também para as leis de sacrifícios e holocaustos.
Confesso, com todo o respeito, que achei cômico ele argumentar, com base em Isaías 56:1-8, que o gentio podia não ser circuncidado, mas precisava guardar o sábado. Ele só “esqueceu-se” de mencionar que os estrangeiros mencionados ali eram ” eunucos “, isto é, “aquele[s] a quem forem trilhados os testículos ou cortado o membro viril ” (Deuteronômio 23:1, ARA). Seria uma façanha circuncidá-los! Isaías 56:1-8 era um consolo aos eunucos que, apesar de não poderem fazer parte da congregação judia, faziam o melhor que podiam, até mesmo escolhendo guardar o sábado e oferecer sacrifícios. No mais, os prosélitos, estrangeiros convertidos ao judaísmo, estavam sob a obrigação de guardar todos os mandamentos da Torá, não só o sábado, mas também a circuncisão e todas as leis ditas “cerimoniais”. O texto que o Sr. Caldas cita, de Êxodo 12:42-49 só vem confirmar esse fato. O gentio incircunciso, não sendo prosélito, não podia comer a Páscoa. Em nenhum lugar se diz que tal gentio incircunciso guardava o sábado. O estrangeiro circuncidado, no versículo 48, era um prosélito, “como o natural da terra” (CBA: “[v.48] trata dos prosélitos “). Nenhum gentio tinha a obrigação de guardar o sábado, mas, se quisessem, podiam tornar-se prosélitos judeus, e aí estariam sob toda a Torá. “Uma mesma lei e um mesmo direito haverá para vós e para o estrangeiro que peregrina convosco ” (Números 15:16, ARC). Esse texto, segundo o CBA, era para “incentivar os estrangeiros a se converterem em prosélitos da religião judaica”.
O autor afirma: “Nota-se, assim, que o fato de guardar o sábado não o obrigava a também se circuncidar e praticar todos os ritos judeus.” Mas o autor é incapaz de citar um único texto que mencione um gentio incircunciso guardador do sábado (com exceção de eunucos, fisicamente incapazes de ser circuncidados). Como já afirmamos, nenhum gentio tinha a obrigação de guardar o sábado (apenas o guardavam os que, de livre e espontânea vontade , vinham a tornar-se prosélitos ).
O autor afirma: “[o sábado] foi instituído ao término da criação, quando não havia nem judeus, nem Israel, nem Abraão, nem mesmo pecado no mundo (Gn 2:1-3)”. Só faltou ele mostrar onde o texto de Gênesis 2:1-3 inclui uma ordem de Deus para que o homem guardasse o sábado.
Ele continua: “De modo semelhante, a distinção entre alimentos puros e impuros remete a época de Noé, quando o homem começou a comer carne (Gn 7:2-9)”. O texto que ele cita, de Gênesis 7:2, relata instruções dadas antes do dilúvio, quando Deus ainda não havia dado permissão para o homem comer carne. Logo, a distinção que se faz ali de animais puros e impuros se referia exclusivamente a seu uso em sacrifícios. O CBA comenta nesse verso: “Remonta a tempos mais remotos, às instruções divinas concernentes aos sacrifícios , para os quais só podiam ser usados animais limpos (veja Gen 8:20)”.
Portanto a distinção de animais puros e impuros em Gênesis 7:2 nada tem a ver com dieta alimentar. Tanto é assim que após o dilúvio, quando Deus pela primeira vez permitiu que o homem comesse carne, Ele disse: ” tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar nas vossas mãos serão entregues. Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora.” (Gênesis 9:2, 3, ARA) O texto é claro como água: não havia qualquer distinção de animais puros e impuros quanto a alimentação. Deus permitiu que todos os animais fossem comidos – ” tudo o que se move e vive”, ” todos os peixes do mar”. Assim “como vos dei a erva verde [isto é, sem fazer qualquer distinção de plantas puras e impuras], tudo vos dou agora.” Sabe qual é a justificativa que o Comentário Bíblico Adventista dá para esse versículo?
O CBA diz: “Apesar de não se apresentar aqui a distinção entre alimais limpos e impuros para alimentação, isso não significa que era desconhecida para Noé”. Então cita Gênesis 7:2 e 8:20, que, como já vimos, falam de sacrifícios, não de alimentação. O CBA afirma: “os que eram impuros para um propósito não podiam ser limpos em outro”. Isso é falso. Embora alguns animais, como o porco e o cão, fossem impuros tanto para alimentação como para sacrifícios (Isaías 66:3), outros, como os peixes de barbatanas e escamas eram permitidos pela Torá como alimentação, mas não como sacrifício. E o CBA prossegue com essa pérola: “a distinção [de animais puros e impuros para alimentação] deve ter sido tão perfeitamente conhecida pelos primeiros homens que foi desnecessário que Deus chamasse a atenção de Noé especialmente para ela”. Entendeu o argumento, amigo leitor? O fato de o texto não mencionar tal distinção é tomado como prova de ela existia, sendo desnecessário mencioná-la. Como diz um amigo nosso, “tá bom ou quer mais”?! Esse “argumento” vale para qualquer coisa. Poderíamos até dizer: a existência do Papai Noel, do coelhinho da Páscoa e do chupa-cabra “deve ter sido tão perfeitamente conhecida pelos primeiros homens que foi desnecessário que Deus chamasse a atenção de Noé especialmente para ela”. Mas não é apenas o caso de o texto não mencionar tal distinção. Ele não deixa possibilidade de que ela existisse, pois autoriza como alimento ” tudo o que se move e vive” e ” todos os peixes do mar”. Enxergar qualquer distinção ali é impossível.
Diz o Sr. Caldas: “Também a proibição de comer sangue é da época de Noé (Gn 9:4-5) e foi, aliás, explicitamente mencionada pelos apóstolos como ainda válida (At 15:20 e 29).” Pura verdade!!! Mas onde é mesmo, Sr. Caldas, que os apóstolos mencionaram a guarda do sábado e leis dietéticas como requisito para os cristãos???
O autor assevera: “O decálogo é um exemplo dessa espécie de mandamentos. Todos eles têm origem anterior à Torá”. A Bíblia ensina justamente o contrário. Deuteronômio 4:13 e 5:4 (A21, NVI) afirmam que a “aliança, isto é, os dez mandamentos” não fora feita com os “antepassados” dos israelitas, mas com os que saíram do Egito.
Nos dois últimos parágrafos o autor fala dos mandamentos ” aplicáveis “, ” logicamente possíveis ” de serem cumpridos. A ideia parece coerente. Já que a Bíblia claramente não faz qualquer distinção entre lei “moral” e “cerimonial”; e que a Lei era, e sempre foi, uma só; e ninguém engole que questões puramente dietéticas são de cunho moral; parece melhor mesmo dizer que dos 613 mandamentos, cumprimos “o que dá” para cumprir. Mas na prática não existe tal coerência. Por que não? Ora, a circuncisão é um mandamento da Torá “aplicável” e “logicamente possível”. Por que não a guardam? O mandamento de se fazer “franjas nas bordas das suas vestes” e pôr “um cordão azul” é “aplicável” e “logicamente possível” (Números 15:38). Por que não o guardam? O mandamento que proibia tecidos mistos, “roupas feitas de tecidos diferentes”, é “aplicável” e “logicamente possível” (Levítico 19:19). Por que não o guardam? Que é da coerência?
Como amante da Língua Portuguesa que somos, não podemos encerrar sem contribuir para o cultivo do idioma, aconselhando ao amigo leitor que evite os erros gramáticais do Sr. Caldas. No quinto parágrafo ele esquece a vírgula antes de “ao aceitá-lo”, que deveria estar introduzindo oração intercalada. Curiosamente, mais à frente escreve: “era requerido, guardar o sábado”. Essa vírgula incorreta deve ter pulado da frase anterior. Também escreve no terceiro parágrafo: “aplicáveis à conjunturas específicas”, indicando um caso de crase que não existe. Porém adiante ele escreve: “remete a época de Noé”. Poderíamos fazer um transplante do acento grave mal usado anteriormente para esta última frase, onde falta. No parágrafo 3 ele escreve: “não há porque enxergar de modo distinto”, indicando que desconhece a diferença elementar e básica entre “porque” e “por que” (talvez ele acredite naquela anedota que engana muita gente: “separado na pergunta, junto na resposta”).
Encerremos com dois texto para aqueles que creem na vigência da Torá. Do primeiro o CBA diz tratar-se da “Lei, seja civil ou religiosa”:
“Pois qualquer um que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto , torna-se culpado de todos.” – Tiago2:10, A21.
Sobre o último lemos no CBA que o termo “lei” “inclui tanto a lei moral – o Decálogo – como a lei cerimonial”:
” Maldito todo aquele que não permanece na prática de todas as coisas escritas no livro da lei.” – Gálatas 3:10, A21