Quando surgiu a Massorá?

Por Queruvim

Ao analisar evidências externas e a favor da antiguidade do texto massorético, faço neste artigo uma análise documental  procurando corrigir conceitos infundados que defendem uma produção massorética tardia. A Massorá é mais antiga do que muitos pensam. As fontes são fiáveis e estão dentro do próprio corpo do artigo. Baixe este artigo Quando surgiu a Massorá em PDF. Contudo, fiz um update do artigo no texto abaixo com mais duas citações em maio de 2022.

O Dr. Paul Wegner,  Doutorado, Mestre em Teologia e Professor de Estudos do Antigo Testamento , Diretor de Programas de Estudos Avançados do Gateway Seminary, em Ontário, Califórnia, escreveu sobre a massorá (ou massorah), e afirmou que foi por volta do 5º século E.C que os massoretas “herdaram a tradição dos escribas e levaram avante o trabalho de preservação do texto”. Ele prossegue: 

“A labuta diligente deles desde c. 500-1000 A.D ajudou a preservar o texto hebraico que temos, o Texto Massorético.”(The Journey from Texts to Translations: The Origin and Development of the Bible.)

       A Encyclopedia Judaica concorda com estas declarações a respeito da antiguidade do texto hebraico com os sinais massoréticos visto que afirma que “suas porções massoréticas provavelmente remontam ao século VI ou VII.” MASORAH, Jewish Encyclopedia

       O artigo The Masoretes and the Punctuation of Biblical Hebrew, produzido pela Bible Society in Israel também faz a seguinte afirmação a respeito da antiguidade do texto massorético hebraico: 

“Porque a tarefa dos rabinos do 6 º século em diante não era mais estabelecer um consenso, mas esclarecer e preservar as tradições que já foram acordados nas academias, eles são geralmente referidos como massoretas (tradicionalistas – a forma inglesa pode ser escrita igualmente como massoretas). Ou ‘pontuações’ (textos com todas as vogais representadas por pontos) surgiu pela primeira vez em Tiberíades em no 6 º século, mas essa forma mais antiga de pontuar (às vezes chamada de niqqud protopalestino) era complexa e assumia diferentes formas em diferentes academias.” (o negrito é nosso)

Elias Levita  (13 February 1469 – 28 January 1549) nascido em Neustadt perto de Nuremberg, escreveu um livro chamado Massoreth Hamassoreth em 1538, onde abordou com diversas citações de fontes antigas, o desenrolar dos acontecimentos na produção do texto massorético hebraico. Ele afirma que a as pontuações e vogais no texto Massorético foram elaboradas pelos massoretas após o período talmúdico, isto é, o Talmude de Jerusalém e no período do término da Gemara pelos Amoraim, por volta do ano 500 EC. Durante o século 16 e 17 ocorreram intensos debates  entre eruditos e líderes religiosos tanto judeus quanto os da cristandade a respeito da antiguidade do texto massorético.  

Percebi que pesquisadores que viveram principalmente antes das descobertas de importantes manuscritos hebraicos no século 20, como os Rolos do Mar Morto, defendiam a tese de que os nekudot com as tenuoth  תנועות, foram transmitidos por Deus por inspiração no monte Sinai. Afirmavam até mesmo que no tempo de Esdras houve um reavivamento destes sinais e pontuações, que segundo eles antecede ao tempo dos massoretas. Elias levita ao abordar este tema cita em seu livro (pag.127) o seguinte:

“Ora, esta é minha opinião sobre este assunto. Os pontos vocálicos com os acentos não existiam quer antes de Esdras ou no tempo de Esdras ou depois de Esdras até o tempo do Talmude. E eu provarei isso com evidência clara e conclusiva… Quase todos os nomes das pontuações vocálicas não são em hebraico, mas em  aramaico e babilônico; como por exemplo: tserê, segôl, holem, Melaphum e também Mapik, Dagesh, Dagar, Tebir, etc. Ora, se fosse verdade que foram dados no Sinai, qual o significado de nomes arameus no Monte Sinai? Não foram os mandamentos dados no Sinai em hebraico?” 

Ele prossegue citando então, Abraham Ibn Ezra (nascido em 1092 ou 1093) que escreveu no livro Pureza, como segue:

” Esta é a maneira dos sábios de Tibérias, e eles são a fundação, pois deles surgiram os massoretas, e deles recebemos todas  as nossas pontuações vocálicas.”

A Massorá – Mais antiga do que alguns pensam!

Alguns tem afirmado que os sinais massoréticos surgiram bem mais tarde. Ledo engano! O  Códice de Londres (Or. 4445), uma das mais antigas Bíblias Hebraicas sobreviventes, demonstra o contrário! Este manuscrito tem grandes semelhanças com o Códice de Alepo (930 E.C) e o Códice de Leningrado (1008-1010 E.C), sendo porém mais antigo!

 

Também conhecido como Codex Orientales 4445, ou ainda  “London Codex” IMAGEM ACIMA , é datado como sendo de 820-850 E.C; o manuscrito contém Gênesis-Deuteronômio 1:33 (menos Números 7: 47–73 e Números 9: 12–10: 18).

OCodex Hilleli”,  escrito por volta do ano 600 E.C  pelo rabino Hillel ben Moses ben Hillel, desapareceu ou foi destruído em 1197 na Espanha. Temos atualmente cópias deste produzidas na idade média, por exemplo na Espanha, em Toledo em 1241. 

Por volta de 1500, Abraão ben Samuel Zacuto (c. 1452 -1515), astrônomo dos Reis João II e Manuel I de Portugal, escreveu em seu livro Sefer ha-Yuhasin:

“Em 14 de agosto de 1197 houve uma grande perseguição dos judeus no reino de Leão nas mãos dos dois reinos que vieram para sitiá-lo. Naquela época, eles removeram de lá os 24 livros sagrados que foram escritos cerca de 600 anos antes. Eles foram escritos por R. Hillel ben Moisés ben Hillel, e seu nome foi dado ao códice, que foi chamado de ‘Hilleli’. Foi extremamente correto e todos os outros códices foram revisados ​​depois dele. Eu vi as duas partes restantes, contendo os Profetas Antigos[ ]e os Profetas posteriores[ ], escritos em caracteres grandes e belos. Estes foram trazidos pelos exilados para Portugal e vendidos em Bugia, na África, onde ainda estão, há cerca de 900 anos. [David] Kimhi, em sua gramática em Números 10: 4, diz que o Pentateuco do Códice de Hillel era existente em Toledo. ”#

Jacob ben Eleazar que viveu no século 12, afirma em sua obra de gramática Michlul, que o Códice de Hillel “que está em Toletola”, “a palavra the’afeh תֵאָפֶה֙ é escrita com um tserê”. Em outras palavras, o texto continha a Massorá. Isto é objeto de discussão de diversos pesquisadores daquele tempo, tais como o rabino David Kimhhi (דוד קמחי 1160–1235), Menahem ben Judah ben Menahem de Lonzano  e Solomon Jedidiah Norzi. Sempre comentando algo sobre a vocalização no Códice de Hillel.

Portanto, fica claro que a origem dos sinais massoréticos não se deu a partir  do 8º, 9º ou 10º século coisa nenhuma, como afirmam alguns pesquisadores descuidados!

Este artigo esta em aberto, podendo ser acrescentado mais informações com o tempo. Caso usar este artigo, cite a fonte, por favor!

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Quem foram os massoretas?